uma obra de 1975 que examina a evolução do sistema penal e das formas de punição na sociedade ocidental. Foucault analisa as mudanças nas práticas de punição ao longo dos séculos, abordando como a sociedade passou de métodos punitivos violentos, como torturas públicas, para uma abordagem .disciplinar mais sutil, porém mais abrangente.
A obra se divide em quatro partes principais:
- Suplício – Nesta primeira parte, Foucault descreve a era dos castigos corporais públicos, quando a punição se concentrava no corpo do condenado como forma de reafirmar o poder do soberano. Ele explora o papel do suplício como espetáculo e a sua eficácia para controlar a sociedade por meio do medo
- Punição – Com a Reforma Penal, a prática de punições públicas começa a ser substituída por prisões e métodos de isolamento, indicando o surgimento de um novo modelo punitivo. Nesse contexto, a punição se desloca para o “corpo social” e busca “corrigir” o comportamento, refletindo uma moral social.
- Disciplina – Foucault introduz o conceito de “sociedade disciplinar”, onde a disciplina se torna uma ferramenta de controle social. Ele analisa instituições como escolas, hospitais, quartéis e prisões, mostrando como, nelas, o comportamento é rigidamente controlado, moldando os indivíduos e regulando suas ações.
- Prisão – Na última parte, Foucault analisa o surgimento das prisões como principal forma de punição, propondo que a prisão não visa somente a “reabilitação” dos infratores, mas age também como meio de manter a ordem e vigiar a sociedade. Ele conclui que a prisão é uma extensão dos sistemas de disciplina e vigilância já presentes na sociedade.
Um dos conceitos centrais do livro é o “Panóptico”, inspirado na ideia do filósofo Jeremy Bentham. Trata-se de uma estrutura arquitetônica idealizada para permitir que um vigilante observe todos os prisioneiros sem que estes saibam quando estão sendo observados, promovendo a autovigilância. Foucault usa o Panóptico como metáfora para descrever o funcionamento das instituições modernas, onde as pessoas internalizam o olhar do poder, levando ao autocontrole.
Em Vigiar e Punir, Foucault argumenta que, ao longo do tempo, a punição tornou-se menos brutal, mas o controle social se tornou mais invasivo e capilarizado. O sistema penal e as instituições disciplinares passam a moldar indivíduos, produzindo corpos “úteis e dóceis”, que se enquadram nas normas da sociedade.
Ao término desta obra, somos forçados a confrontar a realidade de que as instituições de vigilância e punição, longe de apenas corrigir comportamentos desviantes, servem como mecanismos de controle social, moldando e regulando comportamentos de maneira pervasiva e constante. Foucault nos conduz a uma compreensão inquietante de que o poder não é apenas repressivo, mas também produtivo: ele cria sujeitos, normaliza condutas e perpetua desigualdades.
A conclusão de “Vigiar e Punir” deixa o leitor com uma visão aguçada e crítica das formas como o poder opera silenciosamente em cada canto da sociedade, desde as escolas e fábricas até as prisões e hospitais. Foucault nos convida a questionar as aparentes normalidades de nossas instituições e a reconhecer o potencial de resistência e mudança.
Assim, “Vigiar e Punir” é mais do que uma obra sobre o sistema penal; é um chamado à vigilância crítica, uma lembrança de que a luta pela liberdade e justiça exige uma constante desconstrução das formas invisíveis de poder que nos cercam. A obra de Foucault permanece uma bússola indispensável para aqueles que buscam entender e transformar a complexa tapeçaria da sociedade contemporânea